Desvendando o patrimônio sonoro
Os sons têm o poder de contar histórias, transmitir emoções e conectar diferentes gerações. No Paraná, assim como em outros lugares, o patrimônio sonoro é um elo vital entre o passado e o presente, refletindo a riqueza e a diversidade cultural do estado. A música têm um papel fundamental na formação da identidade paranaense. Desde as melodias tradicionais dos imigrantes europeus até os ritmos afro-brasileiros, cada som carrega em si uma parte da história do Paraná, sendo elemento essencial na preservação das memórias coletivas.
Uma das músicas que exemplifica a riqueza do patrimônio sonoro paranaense é a icônica "Bicho do Paraná", composta por João Lopes. Lançada na década de 1970, essa canção se tornou um marco na música do estado e é um dos maiores exemplos de como a música pode refletir a identidade e os valores culturais de uma região. João Lopes, um dos grandes nomes da música paranaense, compôs "Bicho do Paraná" em um momento de efervescência cultural, surgindo com um caráter simbólico e de resistência, destacando a conexão íntima do povo paranaense com sua terra e suas tradições. A canção retrata a natureza exuberante do Paraná, através da figura do "bicho", um ser que, embora inicialmente pareça misterioso e selvagem, simboliza a força e a beleza do estado.
A letra da música mistura elementos de mitologia local com a observação do cotidiano rural e urbano do Paraná, criando uma obra que não só fala sobre o estado, mas também sobre o povo e sua relação com o ambiente ao seu redor. "Bicho do Paraná" faz referências à fauna, aos costumes e aos personagens típicos da cultura local, como os caboclos, e é permeada por um espírito de resistência e resiliência, que reverbera a luta pela preservação das tradições paranaenses frente às mudanças culturais e políticas. O que torna "Bicho do Paraná" tão especial é justamente sua capacidade de unir o local ao universal, criando uma ponte sonora que não só exalta as belezas e particularidades do estado, mas também reverbera sentimentos universais de pertencimento e identidade. Por isso e mais, a letra e a música foram consideradas patrimônio artístico do Paraná em 14 de Setembro de 2022.
A voz da comunidade e desafios de preservação
"Bicho do Paraná" tornou-se uma narrativa oral que atravessa gerações. Sua repetição constante funciona como uma tática de fixação da tradição, ecoando um cordel disfarçado, cuja resposta nunca veio – uma oralidade pulsante que atua como fio condutor da memória coletiva. Mas a preservação do patrimônio sonoro do Paraná vai muito além desta canção.
Outros artistas também têm papel fundamental nesse processo, como Luiz Carlos Borges, que com sua viola caipira e sua guitarra reaviva as melodias do Sul do Brasil, integrando influências indígenas, europeias e afro-brasileiras.
A preservação e valorização do patrimônio sonoro paranaense não são feitas apenas através da música gravada, mas também por meio da dedicação e do trabalho de artistas, músicos, e contadores de histórias que, diariamente, mantêm vivas as tradições que moldaram o estado. Esses indivíduos são responsáveis por transmitir a riqueza sonora de geração em geração, assegurando que a cultura paranaense continue a florescer, adaptando-se às novas realidades, mas sempre mantendo suas raízes firmemente plantadas.
Um exemplo claro de como essa tradição é preservada é Luiz Carlos Borges, músico, compositor e um dos maiores representantes da música tradicional gaúcha e paranaense. Com sua guitarra e violão, Borges tem dedicado sua carreira a reavivar e divulgar as melodias do sul do Brasil, com foco nas influências indígenas, europeias e afro-brasileiras que se entrelaçam no Paraná. Ao longo de sua trajetória, ele tem sido um defensor ativo da importância de resgatar as músicas raiz, como a chamamé, o vanerão e a música de viola caipira, que fazem parte da identidade sonora do estado. Nesse mesmo nicho de cultura não se pode deixar de mencionar os diversos CTG’s (Centros de Tradição Gaúcha) e os centros de comunidades interioranas onde cultiva-se a tradição sonora das músicas e também das danças regionais.
Projetos que também preservam e promovem o patrimônio sonoro, como o projeto “Vozes do Paraná”, merecem destaque. Essa iniciativa reúne contadores de histórias, músicos e especialistas em patrimônio cultural com o objetivo de resgatar narrativas e músicas que compõem a identidade paranaense. Por meio de oficinas e apresentações, o projeto incentiva a população a compartilhar suas memórias, histórias e canções tradicionais, fortalecendo os laços com a cultura local e valorizando a escuta como forma de preservação.
Conectando o passado com o futuro
Conhecer e valorizar "Bicho do Paraná" é conectar-se com a identidade viva do Paraná. O patrimônio musical paranaense é muito mais do que um conjunto músicas antigas; é uma verdadeira ponte entre o passado e o presente, que conecta gerações e fortalece o senso de pertencimento. Participar de eventos, como rodas de choro, festivais de música ou encontros de cultura popular, é uma forma poderosa de vivenciar e preservar essa rica tradição. Além disso, você pode se envolver ativamente, aprendendo, compartilhando e até mesmo ensinando as próximas gerações sobre as músicas e histórias que formaram a identidade do Paraná.
Gambiarra musical, uma chamada à ação
Como podemos continuar a valorizar e proteger essa canção do Paraná? Que ações podem ser tomadas para garantir que as futuras gerações também se identifiquem com a essência do "Bicho do Paraná"? Chegou a hora de re-imaginar nossas raízes, porque manter viva a nossa herança musical é um ato coletivo, que também se faz no encontro, no improviso, na gambiarra.
Referências
PARANÁ (Estado). Lei nº 21.238, de 12 de setembro de 2022. Reconhece como Patrimônio Cultural Imaterial do Estado do Paraná a canção “Bicho do Paraná”, de autoria de João Lopes. Diário Oficial do Estado do Paraná, Curitiba, 12 set. 2022. Disponível em: https://www.legislacao.pr.gov.br. Acesso em: 19 abr. 2025.
Saiba mais
Texto elaborado por Leonardo Pereira, bolsista de Extensão da Itaipu/UFFS.