Desvendando o patrimônio sonoro
Imagine o murmúrio cotidiano da água à beira do rio, o estrondo majestoso das Cataratas do Iguaçu e até mesmo o silêncio submerso nas águas: você já se perguntou sobre o papel desses sons na formação da identidade cultural do Paraná?
O patrimônio sonoro do Paraná é um elemento essencial na construção da identidade dos paranaenses e na preservação da biodiversidade da região. Seus sons ecoam através das gerações, conectando as pessoas ao seu lugar. No Parque Nacional do Iguaçu, reconhecido como patrimônio natural mundial pelo IPHAN, a escuta atenta das paisagens sonoras do rio Iguaçu e de suas comunidades revela sonoridades da cultura local – desde as vozes das águas até as manifestações das pessoas que com elas convivem.
O Rio Iguaçu, que significa "água grande" em línguas Tupi Guarani, tem uma longa história de interação com as comunidades humanas. Antes da chegada dos colonizadores, povos indígenas como os Kaingangues habitavam as margens do rio. A própria denominação do rio reflete a importância da água em suas culturas. Em 1535, o navegador espanhol Alva Nunes navegou pelo rio em busca de uma rota para o Paraguai, marcando o início do contato com os europeus. Ao longo dos séculos, o rio e seu entorno foram palco de diversos eventos históricos e transformações sociais.
O Parque Nacional do Iguaçu, criado para proteger essa área de beleza natural e biodiversidade, tornou-se um símbolo da identidade do Paraná e do Brasil, atraindo visitantes de todo o mundo para testemunhar a imponência das cataratas. O som das quedas d'água, com seu estrondo característico e as nuances da água em movimento, é um elemento central da experiência no parque. No entanto, o contexto cultural também abrange as comunidades que vivem ao redor do rio, cujas vidas estão intrinsecamente ligadas à sua saúde e sonoridade.
A voz da comunidade e desafios de preservação
As narrativas da comunidade são pilares na compreensão e perpetuação do patrimônio sonoro. Neste contexto do rio Iguaçu, a Lenda das Cataratas emerge como uma importante narrativa ancestral, transmitida através de gerações pelos índios Caingangues, os habitantes originários das margens do Rio Iguaçu. Essa lenda revela a origem das quedas d'água e molda a forma como a comunidade local escuta e interpreta seus sons. A imponência sonora das cascatas ressoa através do tempo, carregando em suas águas a memória, as histórias e as crenças dos povos que há séculos habitam suas margens.
A preservação do patrimônio sonoro do Rio Iguaçu ganha força com o protagonismo da comunidade local, por meio de iniciativas e projetos que valorizam e protegem esse importante legado cultural e natural. O “Mapa Sonoro do Rio Iguaçu”, disponível em https://www.sonsdorioiguazu.art.br, busca registrar a memória sonora do rio, captando seus sons em diferentes pontos e contextos, além de coletar depoimentos de pessoas ligadas ao Iguaçu, incluindo aquelas envolvidas com o Parque Nacional. Esses registros e testemunhos mantêm viva a tradição sonora do rio Iguaçu, promovendo sua escuta por meio da arte e da conscientização ambiental.
Conectando o passado com o futuro
O patrimônio sonoro do Rio Iguaçu é um elo que conecta gerações, desde os sons ancestrais capturados nas falas indígenas até as experiências contemporâneas de quem vive e trabalha às suas margens. Ao conhecer, participar e divulgar as práticas relacionadas a esse patrimônio, você contribui ativamente para o fortalecimento do senso de pertencimento à rica história e diversidade cultural do Paraná, garantindo que as vozes do rio e de suas comunidades continuem a ecoar para as futuras gerações.
Inspirados pelo conceito de "justiça acústica", podemos pensar em como a escuta atenta do patrimônio sonoro do Iguaçu nos sensibiliza para a necessidade de cuidado e preservação. Compreender as transformações sonoras do rio – incluindo os impactos de intervenções como as hidrelétricas – nos aproxima das preocupações das comunidades indígenas e de outros habitantes da região, fortalecendo nosso senso de responsabilidade coletiva.
Jardim de silêncios, uma chamada à ação
Como podemos nos tornar guardiões das vozes do rio e das suas comunidades ribeirinhas? Convidamos à prática da escuta atenta, cultivada em um "jardim de silêncios", para despertar em nós o senso de responsabilidade com o patrimônio sonoro do rio Iguaçu, contribuindo para a sua preservação como fonte de identidade cultural e ecológica para as presentes e futuras gerações.
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